Quando o Brasil voltará a crescer?

Retorno da expansão do PIB é o que todos desejam. Infelizmente, não será para já

Alex Ricciardi
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A economia brasileira anda por caminhos tortos e incertos. O retorno da expansão do PIB é o que todos desejam, mas, infelizmente, não será para já. FORBES Brasil consultou dois especialistas para saber: afinal, quando o Brasil voltará a crescer?

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  • Gesner Oliveira

    Sócio da GO Associados, professor do departamento de Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração (PAE-EAESP/FGV)

    “A economia brasileira deverá retomar a trajetória de crescimento no primeiro semestre de 2017. As projeções da GO Associados de retração de 3% em 2015 e outra de 1,3% em 2016 têm viés de baixa em razão do enfraquecimento do consumo das famílias, das dificuldades do governo para aprovar um programa mínimo de ajuste fiscal e da manutenção da inflação em níveis relativamente elevados. A demora na aprovação das medidas fiscais, em particular, reflete o impasse político, que reforça a crise econômica e contribui para a manutenção da confiança em patamar muito baixo. Ao mesmo tempo em que impede a recuperação da confiança, a condução da política fiscal dificulta a atuação do Banco Central no controle da inflação e gera volatilidade na formação de preços de ativos financeiros, como a taxa de câmbio.

    Importados finais e intermediários estimularão setores produtivos até 2017. O saldo da balança comercial será positivo já em 2015, e nos anos seguintes novos resultados positivos deverão ser registrados. Também em 2017 espera-se que os investimentos associados aos projetos do Programa de Investimentos em Logística (PIL) comecem a acontecer e, por conseguinte, a aumentar a formação bruta de capital fixo da economia. Muitos dos projetos do PIL estão em fase de elaboração de estudos de viabilidade econômica.

    Os primeiros leilões podem acontecer ainda em 2015 — quatro terminais portuários: três em Santos (SP) e um em Belém —, embora o mais provável é que ocorram em 2016. Também no ano que vem deverão ocorrer leilões de alguns trechos de rodovias e dos quatro aeroportos (Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre) previstos no PIL 2015. Tais inversões podem começar a ocorrer em 2016, mas os impactos mais fortes sobre a economia deverão ser sentidos em 2017.

    Assim, a recuperação da economia começaria em 2017 sustentada pelo setor exportador e por investimentos em projetos de infraestru­tura. Tais projetos, de ordem logística, poderiam ser ampliados e abarcar outros setores como energia, óleo e gás e saneamento. Para os dois primeiros, em particular, haveria a necessidade de um desmonte do aparato introduzido pelo governo nos últimos anos e que abalou a confiança do setor privado. Em 2017, a GO Associados prevê aumento de 0,5% do PIB. Esse desempenho ocorreria com altas de 0,2% no primeiro semestre e de 0,4% no segundo semestre, na comparação dessazonalizada com o semestre anterior.”

  • Vinícius de Oliveira Botelho

    Pesquisador da FGV/Ibre

    “A economia brasileira se encontra em uma das maiores recessões das últimas décadas: diversas estimativas apontam para contrações do PIB em 2015 e 2016 comparáveis às da crise de 1930. Os efeitos dessa hecatombe econômica se materializam não só na magnitude da queda, mas na sua duração: 2014 foi um ano de crescimento praticamente nulo; em 2015 tem ocorrido uma intensa contração da atividade econômica, 2016 deve manter esse ritmo de queda. Provavelmente o crescimento volta em 2017, mas não está descartada a possibilidade de que ele só retorne em 2018. Há muitos fatores não econômicos em jogo. Para entender a natureza dessa crise e para onde vamos é necessário discutir como chegamos até aqui. O que aconteceu?

    O crescimento natural da economia brasileira desacelerou ao longo dos últimos cinco anos em virtude de uma série de decisões de política econômica que aumentaram o microgerenciamento estatal. Isso ocorre quando o Estado passa a intervir, detalhadamente, na oferta e nos preços dos bens e serviços produzidos. Essas distorções afetam os incentivos para a alocação de recursos, fazendo com que a riqueza do país seja direcionada a atividades menos produtivas, que limitam o potencial de crescimento econômico.

    Apesar da alta da inflação e da queda na taxa de desemprego até 2014, o diagnóstico de desaceleração econômica do Brasil foi visto pela política econômica como um problema de escassez de demanda. Enquanto a economia do país estava em convulsão, a política econômica tentou amarrá-la, segurá-la. E o resultado foi previsível: a recessão e seus efeitos no mercado de trabalho só foram intensificados e prolongados por essas medidas; 2015 e 2016 (e 2017?) são esse prolongamento e essa intensificação.

    Em virtude do tamanho dos riscos que o desequilíbrio fiscal atual nos coloca, só será possível voltar a crescer quando houver alguma perspectiva de reequilíbrio na economia. A mitigação de riscos permitirá a volta do crédito, a retomada do emprego e do consumo. Evidentemente será um crescimento muito mais limitado, entre 1% e 2,5% ao ano. Para voltarmos a um crescimento de 4% ao ano será necessário realizar reformas que melhorem a eficiência da alocação de recursos da economia.”

Gesner Oliveira

Sócio da GO Associados, professor do departamento de Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração (PAE-EAESP/FGV)

“A economia brasileira deverá retomar a trajetória de crescimento no primeiro semestre de 2017. As projeções da GO Associados de retração de 3% em 2015 e outra de 1,3% em 2016 têm viés de baixa em razão do enfraquecimento do consumo das famílias, das dificuldades do governo para aprovar um programa mínimo de ajuste fiscal e da manutenção da inflação em níveis relativamente elevados. A demora na aprovação das medidas fiscais, em particular, reflete o impasse político, que reforça a crise econômica e contribui para a manutenção da confiança em patamar muito baixo. Ao mesmo tempo em que impede a recuperação da confiança, a condução da política fiscal dificulta a atuação do Banco Central no controle da inflação e gera volatilidade na formação de preços de ativos financeiros, como a taxa de câmbio.

Importados finais e intermediários estimularão setores produtivos até 2017. O saldo da balança comercial será positivo já em 2015, e nos anos seguintes novos resultados positivos deverão ser registrados. Também em 2017 espera-se que os investimentos associados aos projetos do Programa de Investimentos em Logística (PIL) comecem a acontecer e, por conseguinte, a aumentar a formação bruta de capital fixo da economia. Muitos dos projetos do PIL estão em fase de elaboração de estudos de viabilidade econômica.

Os primeiros leilões podem acontecer ainda em 2015 — quatro terminais portuários: três em Santos (SP) e um em Belém —, embora o mais provável é que ocorram em 2016. Também no ano que vem deverão ocorrer leilões de alguns trechos de rodovias e dos quatro aeroportos (Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre) previstos no PIL 2015. Tais inversões podem começar a ocorrer em 2016, mas os impactos mais fortes sobre a economia deverão ser sentidos em 2017.

Assim, a recuperação da economia começaria em 2017 sustentada pelo setor exportador e por investimentos em projetos de infraestru­tura. Tais projetos, de ordem logística, poderiam ser ampliados e abarcar outros setores como energia, óleo e gás e saneamento. Para os dois primeiros, em particular, haveria a necessidade de um desmonte do aparato introduzido pelo governo nos últimos anos e que abalou a confiança do setor privado. Em 2017, a GO Associados prevê aumento de 0,5% do PIB. Esse desempenho ocorreria com altas de 0,2% no primeiro semestre e de 0,4% no segundo semestre, na comparação dessazonalizada com o semestre anterior.”

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